Mas em determinado momento a espera se tornou absolutamente constrangedora. Então viro pra essa menina do meu lado e pergunto que banda ela veio ver. Susana fica entusiasmada com a idéia de uma amiga e me usa como desculpa para ir até o bar. Me dou conta que é por isso. Ela quis ser minha amiga para poder se locomover com mais autoridade.
Nunca entendi essa mania de mulher de precisar de um acompanhante quando em público. Ela veio ver Vixen cover, a última banda da noite. Ela tem uma banda cover de Vixen também, veio ver se as outras garotas dão conta como ela. O que eu já percebi é uma constante entre bandas covers. Há uma competição para ver quem imita melhor, quem faz mais jus à banda.
Susana conhece muita gente na festa mas não parece ser amiga de ninguém a não ser de seu namorado de quem ela se gaba bastante. Pergunto, quase certa da resposta, há quanto tempo eles namoram "desde sábado passado" ela confessa constrangida. Temos mais em comum do que Susana imagina. E também certa da resposta pergunto se ela está no terceiro colegial "perdi um aninho" também temos muito diferente. Com 17 anos eu não era esse tipo de menina, enchendo a cara com desconhecidos, usando decotes absurdos e postando fotos sensuais na internet (como mais tarde eu descobriria). Talvez peder um ano não fosse tão ruim assim.
Nossa conversa não é guiada por minhas perguntas, nem pelas dela. Susana me conta milhões de particularidades sobre as pessoas ali, independente do meu interesse. O Bon Jovi Cover por exemplo, 5 garotos isolados têm cabelos loiros longos e jeans rasgados, são os bons pedaços da festa. E por mais que eu os ache ridículos, entendo a aura em volta deles. Me sinto bonita, como raramente me sinto, não preciso da aprovação de ninguém, ninguém aqui me interessa. Percebo isso quando Susana pede para tirarmos uma foto juntas. Trouxe minha máquina para ilustrar minha pesquisa, Susana quer ela para registrar absolutamente qualquer coisa. Entendo que me sinto segura ali e por isso sai bem na foto. E penso, que não devia ser assim, que eu não deveria me sentir bem nesse lugar só porque eu me acho melhor que eles. é tão pequeno isso em mim. Começo a ficar assustada.
Susana me aponta as garotas promiscuas da festa. Elas são de fato interessantes. Duas loirinhas de por volta de 19 anos, com calças apertadas, blusas de banda cortadas, adereços metálicos... elas se vestem como Susana mas são magras e muito geitosinhas. "elas nem entendem nada de música, só querem se exibir pra banda" acusa Susana. Acho elas fascinantes.
Entra o show do Kiss cover, esse que eu vim assistir. O Gene Simmons tem marcas de espinhas tão profundas que dá pra ver até por baixo da maquiagem. Vai ver que é por isso que ele escolheu ser cover do kiss. Para poder esconder a cara. Ele tem uma namorada que nem gosta muito de kiss, mas ajuda com a roupa e a maquiagem. Acho que o Gene Simmons tem algo que eu não tenho. Penso. Quem sou eu para pensar isso? Fico tão farta com esse tipo de narrador que me tornei, esse que se resume melhor que o mundo por ser instrospectivo de mais para fazer parte dele.
As pedaçudas estão de fato dançando oferecidamente para o palco. Admito elas são sensuais e chamam atenção da maior parte dos garotos na pista. Gostaria de chamar atenção feito elas. não aqui. Não entendo na verdade, porque elas tão bonitinhas querem chamar atenção do Gene Simmons cover coberto de espinhas.
Passo a entender qualquer coisa assim: que em todo lugar acaba tendo Bon Jovis, pedaçudas e garotos que são interessantes mesmo com espinhas e Susanas que seriam pedaçudas se pudessem.