quarta-feira, abril 29, 2009

Eu te espero na estação rodoviária. É uma surpresa. Você disse que gostaria que eu viesse. Eu disse que não poderia. Mas vim. Seu ônibus está 15 minutos atrasado, e eu estou 10 minutos adiantada. Te comprei flores porque achei que você acharia engraçado, mas são flores bonitas.
Reparo nas pessoas em volta, principalmente as mais velhas, gosto de entender as rugas de cada pessoa. Aquele homem tem ruga de quem é sério, e aquele de dormir pouco, aquele tem ruga de bravesa e aquela mulher, ruga de maldade. E tem a ruga de tristeza, que não virou maldade nem bravesa, é tão sofrido. É toda uma frustração em querer ser qualquer outra ruga.
Eu sinto falta de te amar. E de ser amada por você. É por isso que eu vim. Porque eu não te amo mais. Porque eu não tenho medo de te dar flores. Porque não preciso mais que você me dê flores. Porque não é um problema estar 10 minutos adiantada quando você está 15 minutos atrasado. Eu não fico mais chateada com as coisas que você não pode ser pra mim.
Eu não entendo como eu deixei de te amar só por entender que não podia te amar.
Eu gostaria que você tivesse me dado flores. Eu gostaria de ter te conhecido 10 minutos mais cedo e ter te deixado 15 minutos mais tarde. E eu acho que você vai ter ruga de sério e eu quero ter ruga de quem trabalhou de mais.
Quem tira as rugas com plástica normalmente tinha ruga de se preocupar de mais com que os outros pensam. Eu também tenho medo de ter esse tipo de ruga.
Acho pretensioso todos esses pensamentos. E fico imaginando como tudo que eu penso sobre aquela mulher de rugas tristes, a deixariam mais triste. E que eu gostaria de esperar as pessoas assim como ela, fazendo crochê. Ao invés de esperar as pessoas com flores que são na verdade pra mim.
Eu vou embora, devia ir embora. Encosto as flores no chão e subo a escada rolante. Lá de cima vejo você chegando. E você passa pelas flores sem nem olhar para elas. Sem saber que elas eram suas, sem saber que elas eram minhas. E você acende um cigarro e você parece não sentir nada. O que será que eu pareço sentir?
E eu não sei se fico ou se vou ou se fico olhando você ai. Mas de repente como se tivesse farejado minha presença você olha pra mim. Mas não me vê, é o que eu percebo um segundo depois quando você toma um leve susto com o meu aceno . Ai você sobe, você não me pergunta porque estou lá em cima ou porque eu vim se eu disse que não vinha. E eu digo:

- Alguém deixou um buquê de flores lá em baixo. Olha, tá inteirinho.
- Alguém deve ter esquecido.
-Que tipo de pessoa esquece um buquê de flores?
-O tipo de pessoa que não faz questão de ganhar.
-É, deve ser...

domingo, abril 19, 2009

adoro pessoas grandes
o espaço que elas ocupam
tudo que elas alcançam
os chãos que elas fazem tremer
essas pessoas que a risada assusta

ninguém se dá conta do meu tamanho.