domingo, dezembro 06, 2009

Minha nova amiga se chama Susana, Susex é seu apelido de Internet. Conheci ela em um show de bandas covers, estou pesquisando. Quero usar as bandas covers em meu próximo filme como metáfora de tudo aquilo que queremos ser e não somos, porque não faz parte de nós. Porque é pura cópia. E como a imitação para chegar ao original é feia. Susana é roliça, ela usa um decote descontrolado que mostra até seu sutiã vermelho, uma calça apertada de couro, uma bota de salto, brincos gigantes e uma maquiagem carregada. Susana tem 17 anos e gosta de tomar todo tipo de batidinha doce que o bar serve. Não sei porque Susana quis ser minha amiga durante essa noite. Eu falo pouco, concordo com tudo que ela diz para não ter que pensar muito a respeito ou criar discórdia, vou com ela em todos os cantos da casa de shows que ela quer me levar. Eu quis ser amiga dela pois não aguentaria uma segunda hora de completo isolamento na festa. Não conheço ninguém aqui e nem faço questão.
Mas em determinado momento a espera se tornou absolutamente constrangedora. Então viro pra essa menina do meu lado e pergunto que banda ela veio ver. Susana fica entusiasmada com a idéia de uma amiga e me usa como desculpa para ir até o bar. Me dou conta que é por isso. Ela quis ser minha amiga para poder se locomover com mais autoridade.
Nunca entendi essa mania de mulher de precisar de um acompanhante quando em público. Ela veio ver Vixen cover, a última banda da noite. Ela tem uma banda cover de Vixen também, veio ver se as outras garotas dão conta como ela. O que eu já percebi é uma constante entre bandas covers. Há uma competição para ver quem imita melhor, quem faz mais jus à banda.
Susana conhece muita gente na festa mas não parece ser amiga de ninguém a não ser de seu namorado de quem ela se gaba bastante. Pergunto, quase certa da resposta, há quanto tempo eles namoram "desde sábado passado" ela confessa constrangida. Temos mais em comum do que Susana imagina. E também certa da resposta pergunto se ela está no terceiro colegial "perdi um aninho" também temos muito diferente. Com 17 anos eu não era esse tipo de menina, enchendo a cara com desconhecidos, usando decotes absurdos e postando fotos sensuais na internet (como mais tarde eu descobriria). Talvez peder um ano não fosse tão ruim assim.
Nossa conversa não é guiada por minhas perguntas, nem pelas dela. Susana me conta milhões de particularidades sobre as pessoas ali, independente do meu interesse. O Bon Jovi Cover por exemplo, 5 garotos isolados têm cabelos loiros longos e jeans rasgados, são os bons pedaços da festa. E por mais que eu os ache ridículos, entendo a aura em volta deles. Me sinto bonita, como raramente me sinto, não preciso da aprovação de ninguém, ninguém aqui me interessa. Percebo isso quando Susana pede para tirarmos uma foto juntas. Trouxe minha máquina para ilustrar minha pesquisa, Susana quer ela para registrar absolutamente qualquer coisa. Entendo que me sinto segura ali e por isso sai bem na foto. E penso, que não devia ser assim, que eu não deveria me sentir bem nesse lugar só porque eu me acho melhor que eles. é tão pequeno isso em mim. Começo a ficar assustada.
Susana me aponta as garotas promiscuas da festa. Elas são de fato interessantes. Duas loirinhas de por volta de 19 anos, com calças apertadas, blusas de banda cortadas, adereços metálicos... elas se vestem como Susana mas são magras e muito geitosinhas. "elas nem entendem nada de música, só querem se exibir pra banda" acusa Susana. Acho elas fascinantes.
Entra o show do Kiss cover, esse que eu vim assistir. O Gene Simmons tem marcas de espinhas tão profundas que dá pra ver até por baixo da maquiagem. Vai ver que é por isso que ele escolheu ser cover do kiss. Para poder esconder a cara. Ele tem uma namorada que nem gosta muito de kiss, mas ajuda com a roupa e a maquiagem. Acho que o Gene Simmons tem algo que eu não tenho. Penso. Quem sou eu para pensar isso? Fico tão farta com esse tipo de narrador que me tornei, esse que se resume melhor que o mundo por ser instrospectivo de mais para fazer parte dele.
As pedaçudas estão de fato dançando oferecidamente para o palco. Admito elas são sensuais e chamam atenção da maior parte dos garotos na pista. Gostaria de chamar atenção feito elas. não aqui. Não entendo na verdade, porque elas tão bonitinhas querem chamar atenção do Gene Simmons cover coberto de espinhas.
Passo a entender qualquer coisa assim: que em todo lugar acaba tendo Bon Jovis, pedaçudas e garotos que são interessantes mesmo com espinhas e Susanas que seriam pedaçudas se pudessem.

domingo, novembro 29, 2009

quando eu era mais nova eu imaginava que talvez se eu gravasse um tempo de silêncio numa fita cassete e depois tocasse ela ao máximo volume, eu conseguiria tornar o silêncio mais alto que qualquer ruído. Volta e meia tenho tanta vontade que desse certo. Estranho pensar nisso agora, que eu não faço questão de silêncio algum.

sábado, setembro 26, 2009

espaço e tempo.

eu não leio mais poesia como eu costumava. tinha uma época que eu comprava livros de poesia quase toda semana. e hoje em dia eu mal sei as letras das músicas que eu gosto. tinha uma época que eu vivia escrevendo elas por ai. e eu não guardo mais recortes bonitos, tinha uma época que eu tinha uma pasta dos meus recortes preferidos e esse ou aquele eram tão especiais que não podiam ser usados com qualquer coisa. eu não desenho mais. nem escrevo poesia. nem tiro fotos. nem escrevo músicas. e nem pinto camisetas. eu não passo tardes inventando novos doces. eu não mantenho correspondências. eu não leio mais sobre moda.

tinha uma época que eu era obcecada por papiê mache. eu fiz um pinguim de papiê mache para um amigo. ele, o pinguim, era barrigudinho e a cabeça saía, como um pote. deu muito trabalho. primeiro eu tive que achar sucatas ideais. passar cola plástica, fazer a primeira camada de jornal, uma camada de papel higiênico, a cabeça de alumínio, o bico de plástico, mais jornal. pintar de branco, pintar de branco de novo até não dar pra ver o jornal, pintar de pinguim, passar verniz. demorou uma semana acho, deu muito trabalho. mas o pior é que eu era completamente impaciente. eu nunca queria esperar secar pra ir pra próxima etapa. o que tornava as coisas mais complicadas, porque toda hora eu me fudia mais por ser impaciente. hoje em dia eu penso que seria incapaz de fazer isso. porque toma muito tempo. parece que tudo toma mais tempo agora. ou o tempo vale muito mais. porque o tempo passa tão mais rápido a medida que a gente cresce? de alguma forma pra mim parece que a medida que a gente cresce fisicamente e o tempo não cresce junto. e eu sei que isso não faz sentido porque a gente para de crescer. mas sabe aquela sensação de que os lugares da sua infância eram muito maiores do que eles são de fato, obviamente porque você era menor e sua perspectiva era outra. mas já tentou visitar algum lugar que vc não vai há... 4 anos, por exemplo, um lugar que você conheceu crescido. não sei pra você.... mas esses lugares também me parecem menores. e eu não cresço (fisicamente) há quase 10 anos. eu acho que a medida que a gente cresce a gente ocupa mais espaço e a gente também ocupa mais tempo. parece que nunca há tempo pra nada e talvez não haja espaço também. eu tenho uma noção tão maior das pessoas em volta.

e ainda, por mais que eu tenha deixado todas essas paixões que eu falei no começo do post eu fico feliz em ter novas: eu escrevo sobre todo filme que eu assisto. eu escrevo roteiros. eu coleciono fotos bonitas que eu encontro na internet. eu gosto de colecionar pequenas frases bonitas que as pessoas falam, mesmo que elas não signifiquem nada de mais, só por elas terem um bom arranjado de palavras. e eu fico feliz em saber que eu não sou nenhuma dessas coisas. que as músicas que eu gosto e os filmes que eu faço e as coisas que eu coleciono, são paixões. que são parte de mim. mas eu sou outra coisa e não deixo de ser por deixar qualquer paixão pra trás.
eu penso também que hoje em dia eu teria mais paciência com o pinguim, que entre uma fase e outra, eu seria mais paciente de esperar secar.

e eu sei que esse post é cafona pacas, (achou isso? vai se fudê procura outro blog!) (mentira, eu também acho, mas respeite a minha fossa, eu to triste por qualquer coisa que eu não quis dizer aqui e preferi falar do tempo)

ademais eu gostaria de dizer que sou absolutamente descrente da teoria científica do espaço e tempo. essa história de que vc vai ali, passa quinze minutos e aqui passa mil anos é absolutamente mentira! já tentaram me explicar e ainda bem pra entender precisa de um sério conhecimento de física. porque francamente eu não quero entender. acho demais pra minha cabeça. dessas coisas que me arrepiam. prefiro que exista et.

sábado, agosto 29, 2009

Onde está meu Dvd do Alta Fidelidade?

Desde que eu comecei a postar em blogs, eu sempre quis fazer um post sobre como eu gosto de blogs. Ou sobre como eu gosto de Alta Fidelidade. Ou sobre como eu já fui stalker de uma pessoa. Ou sobre como foi incrível minha viagem para o nordeste no começo desse ano. Ou sobre como esse mês de agosto foi absurdo de tantas maneiras que eu nem tive tempo de ficar perplexa. Ou sobre como as vezes eu me pego com uma vontade maluca de descobrir que eu tenho super-poderes, e que eu devo na verdade largar todas as minhas responsabilidades para salvar o mundo, porque é muito mais importante.

E ai acho que nesse agosto as responsabilidades eram tantas, ou tão boas, que nem deu pra sonhar com a minha academia de super-heróis. eu deixei a idéia pra trás e retomo ela agora com menos entusiasmo. Esse é aquele post que eu queria fazer sobre como eu sempre acabo produzindo algo pelo qual eu não sou mais tão apaixonada, porque o momento passou. talvez seja o distanciamento que facilite. mas acho que é pior, acho que é descobrir o problema naquela idéia, para poder executa-lá. Assim, quando eu entendi qual o problema da Voz off no cinema, eu fiz um filme com Voz off. Eu fiz um post sobre Alta fidelidade, quando eu já não gostava mais de Alta fidelidade. e eu comecei falando disso de gostar de blogs, quando ah... já não tenho mais todo aquele carinho.

E no fundo, na verdade quase nada no fundo, esse post é sobre bloqueio narrativo. Aquele que é o pior dos assuntos pra se escrever, chega a ser ridículo. E sobre como aqui e ali eu ouço dizer que me falta paixão. é mais rídiculo ainda, eu não quero ser essa personagem. Ouço ainda dizer que minha personagem não está, mas quer estar, apaixonada. é verdade. e eu nem sabia.

meu medo é que a mediocridade só assusta quem de fato é medíocre.

quarta-feira, abril 29, 2009

Eu te espero na estação rodoviária. É uma surpresa. Você disse que gostaria que eu viesse. Eu disse que não poderia. Mas vim. Seu ônibus está 15 minutos atrasado, e eu estou 10 minutos adiantada. Te comprei flores porque achei que você acharia engraçado, mas são flores bonitas.
Reparo nas pessoas em volta, principalmente as mais velhas, gosto de entender as rugas de cada pessoa. Aquele homem tem ruga de quem é sério, e aquele de dormir pouco, aquele tem ruga de bravesa e aquela mulher, ruga de maldade. E tem a ruga de tristeza, que não virou maldade nem bravesa, é tão sofrido. É toda uma frustração em querer ser qualquer outra ruga.
Eu sinto falta de te amar. E de ser amada por você. É por isso que eu vim. Porque eu não te amo mais. Porque eu não tenho medo de te dar flores. Porque não preciso mais que você me dê flores. Porque não é um problema estar 10 minutos adiantada quando você está 15 minutos atrasado. Eu não fico mais chateada com as coisas que você não pode ser pra mim.
Eu não entendo como eu deixei de te amar só por entender que não podia te amar.
Eu gostaria que você tivesse me dado flores. Eu gostaria de ter te conhecido 10 minutos mais cedo e ter te deixado 15 minutos mais tarde. E eu acho que você vai ter ruga de sério e eu quero ter ruga de quem trabalhou de mais.
Quem tira as rugas com plástica normalmente tinha ruga de se preocupar de mais com que os outros pensam. Eu também tenho medo de ter esse tipo de ruga.
Acho pretensioso todos esses pensamentos. E fico imaginando como tudo que eu penso sobre aquela mulher de rugas tristes, a deixariam mais triste. E que eu gostaria de esperar as pessoas assim como ela, fazendo crochê. Ao invés de esperar as pessoas com flores que são na verdade pra mim.
Eu vou embora, devia ir embora. Encosto as flores no chão e subo a escada rolante. Lá de cima vejo você chegando. E você passa pelas flores sem nem olhar para elas. Sem saber que elas eram suas, sem saber que elas eram minhas. E você acende um cigarro e você parece não sentir nada. O que será que eu pareço sentir?
E eu não sei se fico ou se vou ou se fico olhando você ai. Mas de repente como se tivesse farejado minha presença você olha pra mim. Mas não me vê, é o que eu percebo um segundo depois quando você toma um leve susto com o meu aceno . Ai você sobe, você não me pergunta porque estou lá em cima ou porque eu vim se eu disse que não vinha. E eu digo:

- Alguém deixou um buquê de flores lá em baixo. Olha, tá inteirinho.
- Alguém deve ter esquecido.
-Que tipo de pessoa esquece um buquê de flores?
-O tipo de pessoa que não faz questão de ganhar.
-É, deve ser...

domingo, abril 19, 2009

adoro pessoas grandes
o espaço que elas ocupam
tudo que elas alcançam
os chãos que elas fazem tremer
essas pessoas que a risada assusta

ninguém se dá conta do meu tamanho.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Um trem

Você me acha muito previsível. Não é sua culpa. E eu não tenho controle, há toda uma parte consciente de mim que gostaria de agir de uma maneira e observa a outra parte respondendo condicionadamente a você. A entidade você. A questão você. As vezes eu acho que pra ser um artista de verdade você tem que ser uma dessas pessoas pelas quais um trem passa por dentro. estava pensando numa personagem que sai no meio da aula e vai gritar na escada de incêndio. Eu sou essa personagem. Só que como eu não sou uma personagem eu não saio correndo pra gritar. Eu sou tímida, e tenho vergonha de sair da sala, e correr no corredor e depois gritar. As pessoas não saem correndo para gritar no meio da aula. Eu penso instantes depois que se eu fosse professor eu diria “tem um bando de gente viajando nessa aula, eu sei dizer exatamente quem ta pensando em sexo” o que obviamente não se pode dizer, mas é razoável imaginar que metade da sala esta pensando nisso.
A parte de mim que me subjuga por me comportar previsivelmente na sua frente, acha que escreve melhor que você. Mas morre de vergonha de escrever textos inteiros sobre um mesmo assunto fútil. é um trem dentro de mim. Acho que tenho várias partes. Todas elas são previsíveis mas para pessoas diferentes, e todas elas estão condicionadas a cada uma dessas pessoas. A parte condicionada a você esta inflamada, pulsante, roxa, cheia de um pus. Sempre que me perguntam a seu respeito eu digo que esta tudo bem. E nem acredito na cara que faço, de “não tenho nada a dizer sobre isso”. Não tenho nada a dizer. Ninguém quer saber sobre pus.


(eu tenho um pouco de vergonha desse texto, ele já tem alguns anos, mas eu gosto dele)