Hoje eu queria muito roubar uma coisa. Muito mesmo. Dessas coisas que ninguém daria muita falta, mas que mesmo assim seria muito errado roubar. Na verdade errado já era eu cogitar a respeito. De certa forma acho que estou usando o blog na tentativa de ser absolvida.
É que estavamos filmando na casa de uma pessoa que eu não conhecia. Mas estavamos lá, passando por todos os lados, movendo coisas, desmontando a casa e fazendo o filme. Minha função, além de fazer tudo que as pessoas mandavam eu fazer (como embrulhar o relogio, limpar o aquario, puxar o fio, pagar o hotel dos atores...) era bater a claquete. Basicamente eu batia a claquete, e corria pra me esconder agachada em algum canto. E foi assim sentadinha no chão no meio da biblioteca que eu achei um caderninho de folhas coloridas. Era um diario de 2003 de uma menina de 16 anos. E olha só em 2003 eu tinha 16 anos.
E ai que eu fiz a coisa errada, eu li, eu li tudo que dava pra ler nos meus momentos vagos. Eu lia e queria ler mais. Eu queria roubar o diário pra mim, eu queria ter visto ele ontem pra ter levado, xerocado e devolvido.
A dona do diário, era pelo menos aos 16 anos, uma pessoa completamente diferente do que eu era aos 16 anos. Ela fumava maconha quase todo dia, escrevia trechos de MPB pelo caderno, fugia da escola pra sair com os amigos, fazia viagens bacanas, acreditava no poder da lua, participava de manifestações...
Na verdade nada disso tem importancia, pelo menos não no meu fetiche pelo diário. Parecia que tinha sido feito pra alguém ler, porque ele era tão feliz. E ao mesmo tempo tão sincero.
Tinha uma manifestação que ela dizia ter saido gritando com o coro "Fora Pitta, FHC e FMI" em seguida um parenteses que dizia "que chato, eu não sei o que é FMI". Normalmente eu teria pensado bem mal dela, mas era tudo tão sincero. Até quando ela estava triste, ela sabia que estava triste e não tentava racionalizar nada.
Sei lá...
eu sei que eu fiz coisa errada.
mas ainda queria o diário pra mim.